quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Bem-vindos à era das Panicats

        
       Mudaram os padrões estéticos. Na atual era das panicats só sobressaem as bundas perfeitas, os seios siliconados, as barrigas definidas, os potes e potes de suplementos, anabolizantes, dietas milagrosas.  Os marmanjos sofrem verdadeiros êxtases apoteóticos ao ver micro biquínis completamente preenchidos passeando na sua frente. Chega-se a uma espécie de nirvana e ao mesmo tempo uma epifania de incompetência. Sim, porque elas sempre serão areia demais para seus humildes caminhõezinhos.
      Penso comigo, foi só isso que a liberação feminina conseguiu produzir? A cultura da “bundalização”  transformou a mulher em objetos. Verdadeiras máquinas, que são, evidentemente, sinal de status para quem as possui.  Quanto às outras, as excluídas do padrão, sonham em ficar no nível das semideusas da mídia. Sofrem e ralam pra atingir o inalcançável objetivo da bunda perfeita. E seus parceiros que cultuam tanto esse modelo estético? Acompanham o ritmo? Malham e fazem por onde deixar o corpinho sarado? Acho que não.
      Foi para isso que lutamos tanto por um espaço na sociedade? Pra rebolar uma bunda sem celulite ao invés de idéias competentes? É assim que queremos garantir a igualdade dos gêneros?  Almejamos a aparição em playboys para mostrar os produtos da academia em vez de de um lugar nas revistas científicas enfatizando os conhecimentos acadêmicos?
     Porém, se você não tem saco pra produzir também a mente, continue se transformando em uma máquina de músculos. Uma bela bunda pode ser passaporte para a fama (ou pra cama).  Talvez você se torne famosa e aplaudida nacionalmente, vai entrar em algum reality show, ou, pelo menos, vai virar pôster de borracharia. Uma mulher feita pra ver, não pra amar.
             A mídia produz mulheres vazias de idéias.  Portanto, menininhas, preocupem-se em ler, em tornar-se interessantes, porque uma bela bunda tem prazo de validade e, certamente, você não pretende ser descartável, para isso já existem as bonecas infláveis. Homens de verdade precisam de mulheres de verdade, que tenham opinião sobre livros, música, cinema... Homens de verdade precisam conversar. E se seu namorado acha que você não é boa o suficiente pra ele, seja inteligente, mande-o pra p... bem longe.
“Nádegas a declarar”

A Verdade Sobre o Amor

         
            O amor é mesmo um mistério. Nunca se sabe a hora exata do lance fatal. Não se pode indicar o primeiro momento que a outra pessoa passou a ser necessária. Qual beijo mudou a história do simples fica e transformou em paixão o que não era pra ser nada sério. Rege-se pelo princípio da incerteza.
           Dessa forma, também não se sabe por que se ama a outra pessoa. Não se pode escolher a quem amar, e por causa disso o destino acaba nos pregando cômicas peças. Do contrário, faríamos uma lista das qualidades que queremos encontrar num eventual parceiro, e, quando encontradas as características, apertaríamos o botão “apaixonador” e pronto, curtiríamos o romance.
          Mas a realidade é que o seu amor não foi aquele namorado que te mandava flores na oitava série. Aliás, seu amor tem poucas das características da lista. Você não sabe explicar porque o ama.  Mas algo no jeito dele te olhar a mantém fixa. Ele não completa o versinho do Cartola que você canta enquanto cozinha, mas beija sua nuca e faz você rir com o que diz no seu ouvido.  Você gosta de ver seu sorriso ao acordar e gosta quando ele te chama pra sair, ou quando ele percebe sua fome de elogios e repara no seu novo corte de cabelo. Sabe que não seria tão divertido sem ele, mas porque o ama... Isso você não sabe.
       Ele também a ama sem saber por quê. Poderia ter encontrado alguém que fosse mais simpática com seus amigos e que se importasse menos com o futebol das quartas-feiras. Ele diz que odeia seu vestido curto (mas no fundo só quer que você não mostre tanto as pernas por aí). Ele gosta do seu cabelo amarrado com caneta enquanto trabalha no computador, gosta de quando você reclama das cortinas e gosta porque você gosta do seu bulldog francês. Mas quando perguntado porque a ama, iiih... Ele não consegue responder.
       Mas o amor é mesmo assim, ou não é, ou não se sabe. A verdade é que se houver descrição, não há amor.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Garota do Vestido Preto

        
           Há muito tempo atrás, naquele bar no Leblon, ele encontrou a garota dos sonhos. Vestia um sagrado vestidinho preto indefectível e, assim, ele gravou essa imagem como em uma fotografia mental. Seus olhos dissecavam aquela escultura com um apreço e um interesse descomunal. Então ela baixou a guarda. Sorriu.
         Ele lhe pagou um drink. Conversaram. Beberam... Descobriram coisas em comum. Beberam mais.  Ele ligou no outro dia. Marcaram de novo, e de novo... Em pouco tempo, todos os cinemas, cafés e livrarias da cidade conheciam aquelas caras já tão necessárias uma a outra. Assim, a menina do vestido preto do bar do Leblon, tornou-se sua namorada. Mais que isso, tornou-se amor.
        Ela ganhara uma gaveta e uma escova em seu apartamento, já acordava vestida em sua velha blusa dos Beatles com um furo no braço. Já atendiam ligações de madrugada. Pior que isso, já esperavam as ligações de insônia.
      Foi quando ele decidiu casar. Compraram um apartamento. Programaram um filho. Em pouco tempo, ela tinha se tornado de fato sua esposa e passou a ser vista não mais com aquela sensação de outrora. Agora os sentimentos matrimoniais prevaleciam e o brilho áureo percebido no bar tinha sido ofuscado pelo doce conforto de uma vida regrada e aparentemente bem-sucedida.
      A menina percebeu. Pediu a separação e voltou a morar em seu velho apartamento na Zona Norte. Chorou. Ele esperava que ela encontrasse alguém que a fizesse feliz. Ela esperava que ele não conseguisse ninguém melhor, tão cedo.
      Um ano depois, encontraram-se novamente em um café. Ela havia mudado o corte e a cor do cabelo. Ele usava novos óculos de grau. Ele lembrou a fotografia mental do bar do Leblon e percebeu o quanto precisava dela e sentia sua falta. Aproximou-se. Conversaram, riram...
      Hoje eles estão juntos novamente. Ele reservou-lhe a antiga gaveta. Ela ainda usa a camisa do Beatles, de quando em vez. Os cafés, bares e cinemas voltaram a vê-los. As ligações de madrugada são esperadas ansiosamente. Ah, ela ainda mora na Zona Norte. Eles não pensam em se casar e, no entanto, nunca foram tão felizes.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ideologia

     

      Ainda colhemos os frutos de uma política de cabresto, o que justifica o total despreparo brasileiro para escolher seus representantes. Desprovidos do direito de voto por 21 anos de ditadura militar, somados aos 15 da bem-sucedida era de alienação do governo Vargas, quase nunca na história do brasil, o povo manifestou efetiva participação na decisão do cenário político.
      No entanto, a juventude assiste alheia as barbaridades que acontecem no picadeiro do planalto central sem entender (nem procurar entender) absolutamente nada. Não sabem (e precisamos reconhecer que não é fácill) diferenciar a esquerda da direita. Longe do conceito criado no Antigo-Regime francês, os 29 partidos políticos (se não me falha a conta) fazem uma salada de ideias (ou interesses) tornando cada vez mais difícil reconhecer um ideal.
      Felizes os tempos da esquerda e direita definidas, com ideais diferentes. Saudade dos tempos que as doutrinas libertárias ainda corriam nas cabeças adolescentes e a sede de mudança ainda era fator essencial do DNA da juventude.
       Se quisermos imaginar uma verdadeira catástrofe, projetemos os próximos anos em que esses adolescentes serão obrigados a assumir um papel na formação política do país. Essa, a geração mais vazia de todos os tempos, já mostrou suas habilidades elegendo o Tiririca no último pleito.
        Resta a nós sonhar com um milagre nas cabecinhas alienadas que já herdaram dos seus pais um conformismo com a realidade doente. Ideologia? Eu quero uma pra viver.
    
    

Prazo expirado.

     
       O amor tem lote de fabricação e prazo de validade. Muito perecível, por sinal, de modo que começa a definhar desde o instante em que se faz concebido. É bem verdade que o amor é necessário à vida. No entanto, só os começos são bons. Sentem-se as fatídicas borboletas no estômago. Há a preocupação em se fazer interessante e para isso procura-se, de fato, o ser. Existe aquela preocupação de falar as coisas certas no tempo certo.
      Depois da fase de conquista, curte-se os tempos de glória. Vem o delírio, o entusiasmo e o elementar desinteresse pelo resto do mundo. Não há mais preocupação com o que falar, porque, nesse estágio, tudo soa com naturalidade. O silêncio não encomoda mais, fez-se confortável.
      Mas depois... O conforto se transforma em rotina. Perde-se o brilho inicial. Desperta-se o reflexo do exterior e as pessoas já conseguem perceber que em volta do ciclo em que se isolou existe um universo maior de coisas, interesses e pessoas. Dessa forma, o mar de sentimentos que fervia a cabeça transforma-se, paulatinamente, em ralo braço de rio. As ilusões são desfeitas. Passa-se a perceber defeitos, até então, nunca reparados.
      Começam a se abandonar. Sofrem a queda da rotina. Recaem. Não sentem aquele velho amor de outrora, agora, nem mais o conforto e aquilo que foi destruído permanece ausente. Pode-se tentar apaixonar-se novamente, desta vez sem as ilusões, aceitando os defeitos recém-descobertos e aprendendo a conviver com eles. Talvez esse seja o conceito de amor definido por Freud. Do contrário, completa-se o desapego. Cura-se as feridas que  eventualmente restarem e parte-se para outros horizontes, em busca de novos começos. Eis que será necessário sempre estar a começar pra poder sentir.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Castelo de Cartas


"Sendo o fim doce, que importa se o começo amargo fosse? Bem está o que acaba..."

     Não, ele não citou Sheakspeare, nem Pessoa, não cantarolou um versinho do Chico, nem, tampouco, uma frase de efeito pronta para causar impacto quando se quer terminar por cima da situação. Não a desejou sorte, nem felicidade. Simplesmente chegou a conclusão (diga-se de passagem, a mais brilhante de todos os tempos) de que aquilo que há pouco dilatava as pupilas através de uma chama exageradamente estraórdinária, agora amornava de uma forma paulatina e torturante que fazia a cabeça deitar no peito e já aceitar toda a malha de defeitos que ela tinha a oferecer.
     E foi ali, naquele mesmo banco, usado tantas outras vezes para guardar o segredo dos seus melhores beijos, que ele falou, com toda a sua humildade vocabular, que não dava mais. A solução seria o fim, ou um tempo... E aquele desabafo a feriu de uma maneira insuportável, não pelo fim, e sim pelo modo com que o veio. Talvez fosse aquilo que ela estivesse procurando durante toda a noite, no entanto, a coragem com que ele pôs fim no já extinto era uma vez, não passou por ela em nenhum momento. A ideia sim, a coragem não.
      Ela mantinha as mãos fixas na cabeça, como se pudesse segurar o mundo que desabava sobre o teto da sua acrópole particular, e ouvia, como não era acostumada a fazer. Defronte, as mãos dele também seguravam a cabeça, como se acabasse de cometer um crime que causa no feitor uma mistura de medo, arrependimento e alívio.
     Perguntou se era o melhor a fazer. Ela concordou. Completou pedindo-lhe um abraço que soou como se fosse aquele o último. Ela começou a chorar, mas não pela dor do fim. A vida é um ciclo que termina e recomeça em uma nova temporada, com novas aventuras e novos personagens. Sábio é quem vive intensamente o momento e o deixa morrer na hora certa. Para que outros momentos possam nos inundar de novos sentimentos. Mas se não pelo fim, qual o motivo das lágrimas?
      Medo! Mudar é sempre muito complicado. Abrir os braços para o novo e aceitar o que o futuro nos reserva é algo difícil,  mas, ao mesmo tempo, excitante, para quem tem um castelo de confortáveis sentimentos com alguém.
      Aceitar o novo é uma virtude. Hoje ainda é difícil enxergar, algumas lágrimas insistem em correr pela face lastimosa, e assim o será até que se descubra que "a solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita". O futuro nos acena sorrindo, acenemos de volta.         

sábado, 25 de dezembro de 2010

Insanidade Generalizada

     Fico passada com essa juventude atual que precisa se vestir como araras para aparecer. E, no entanto, depois de uma combinação de uma calça laranja com uma blusa rosa e um sapato ridículo, compondo quase uma nova geração de Menudos (tão vazia quanto), tocam suas guitarras para cantar sua tamanha imaturidade. Fala-se de amor da maneira menos alegórica possível, da mesma forma que os cantores brega já o fazem a muito tempo.
     Oh Deus, alguém pode me informar onde está a geração coca-cola que garantiu mudar o mundo? Se são seus filhos, em que mudaram? Onde está aquele espírito político das passeatas de protesto? Onde se escondem os gênios das músicas de duplo sentido? Chico, Caetano, salve-nos, urgentemente!
Precisamos de socorro. É triste continuar lamentando a incompetência da América católica que troca Neruda, Machado, Drummond, e tantos outros mestres por qualquer Crepúsculo ou Harry Potter.
      É necessário apresentar aos araras as canções de protesto do nosso Buarque, ou a estética da Tropicália. Deve-se providenciar injeções intravenosas de rock NACIONAL anos 80. Que a lembrança do Barão nos salve das cores sem sentidos, e que a Legião nos conforme das músicas medíocres.
Que saudade dos seus heróis que morreram de overdose, Cazuza. Hoje cultuamos os importados. Falou Lady Gaga! Se eles entendem de política o que cultuam de estética, estamos fritos!
     "Será que apenas os hermetismos pascoais, os TONS, os MILTONS, seus sons e seus dons geniais, nos salvam, nos salvarão dessas trevas? E nada mais..."