domingo, 26 de dezembro de 2010

Castelo de Cartas


"Sendo o fim doce, que importa se o começo amargo fosse? Bem está o que acaba..."

     Não, ele não citou Sheakspeare, nem Pessoa, não cantarolou um versinho do Chico, nem, tampouco, uma frase de efeito pronta para causar impacto quando se quer terminar por cima da situação. Não a desejou sorte, nem felicidade. Simplesmente chegou a conclusão (diga-se de passagem, a mais brilhante de todos os tempos) de que aquilo que há pouco dilatava as pupilas através de uma chama exageradamente estraórdinária, agora amornava de uma forma paulatina e torturante que fazia a cabeça deitar no peito e já aceitar toda a malha de defeitos que ela tinha a oferecer.
     E foi ali, naquele mesmo banco, usado tantas outras vezes para guardar o segredo dos seus melhores beijos, que ele falou, com toda a sua humildade vocabular, que não dava mais. A solução seria o fim, ou um tempo... E aquele desabafo a feriu de uma maneira insuportável, não pelo fim, e sim pelo modo com que o veio. Talvez fosse aquilo que ela estivesse procurando durante toda a noite, no entanto, a coragem com que ele pôs fim no já extinto era uma vez, não passou por ela em nenhum momento. A ideia sim, a coragem não.
      Ela mantinha as mãos fixas na cabeça, como se pudesse segurar o mundo que desabava sobre o teto da sua acrópole particular, e ouvia, como não era acostumada a fazer. Defronte, as mãos dele também seguravam a cabeça, como se acabasse de cometer um crime que causa no feitor uma mistura de medo, arrependimento e alívio.
     Perguntou se era o melhor a fazer. Ela concordou. Completou pedindo-lhe um abraço que soou como se fosse aquele o último. Ela começou a chorar, mas não pela dor do fim. A vida é um ciclo que termina e recomeça em uma nova temporada, com novas aventuras e novos personagens. Sábio é quem vive intensamente o momento e o deixa morrer na hora certa. Para que outros momentos possam nos inundar de novos sentimentos. Mas se não pelo fim, qual o motivo das lágrimas?
      Medo! Mudar é sempre muito complicado. Abrir os braços para o novo e aceitar o que o futuro nos reserva é algo difícil,  mas, ao mesmo tempo, excitante, para quem tem um castelo de confortáveis sentimentos com alguém.
      Aceitar o novo é uma virtude. Hoje ainda é difícil enxergar, algumas lágrimas insistem em correr pela face lastimosa, e assim o será até que se descubra que "a solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita". O futuro nos acena sorrindo, acenemos de volta.         

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