quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Garota do Vestido Preto

        
           Há muito tempo atrás, naquele bar no Leblon, ele encontrou a garota dos sonhos. Vestia um sagrado vestidinho preto indefectível e, assim, ele gravou essa imagem como em uma fotografia mental. Seus olhos dissecavam aquela escultura com um apreço e um interesse descomunal. Então ela baixou a guarda. Sorriu.
         Ele lhe pagou um drink. Conversaram. Beberam... Descobriram coisas em comum. Beberam mais.  Ele ligou no outro dia. Marcaram de novo, e de novo... Em pouco tempo, todos os cinemas, cafés e livrarias da cidade conheciam aquelas caras já tão necessárias uma a outra. Assim, a menina do vestido preto do bar do Leblon, tornou-se sua namorada. Mais que isso, tornou-se amor.
        Ela ganhara uma gaveta e uma escova em seu apartamento, já acordava vestida em sua velha blusa dos Beatles com um furo no braço. Já atendiam ligações de madrugada. Pior que isso, já esperavam as ligações de insônia.
      Foi quando ele decidiu casar. Compraram um apartamento. Programaram um filho. Em pouco tempo, ela tinha se tornado de fato sua esposa e passou a ser vista não mais com aquela sensação de outrora. Agora os sentimentos matrimoniais prevaleciam e o brilho áureo percebido no bar tinha sido ofuscado pelo doce conforto de uma vida regrada e aparentemente bem-sucedida.
      A menina percebeu. Pediu a separação e voltou a morar em seu velho apartamento na Zona Norte. Chorou. Ele esperava que ela encontrasse alguém que a fizesse feliz. Ela esperava que ele não conseguisse ninguém melhor, tão cedo.
      Um ano depois, encontraram-se novamente em um café. Ela havia mudado o corte e a cor do cabelo. Ele usava novos óculos de grau. Ele lembrou a fotografia mental do bar do Leblon e percebeu o quanto precisava dela e sentia sua falta. Aproximou-se. Conversaram, riram...
      Hoje eles estão juntos novamente. Ele reservou-lhe a antiga gaveta. Ela ainda usa a camisa do Beatles, de quando em vez. Os cafés, bares e cinemas voltaram a vê-los. As ligações de madrugada são esperadas ansiosamente. Ah, ela ainda mora na Zona Norte. Eles não pensam em se casar e, no entanto, nunca foram tão felizes.

3 comentários:

  1. encontro não marcado. reencontro. lindo! dá pra imaginar todas as cenas. até escrevi sobre isso outro dia, se quiser ver: http://genilais.blogspot.com/2010/12/sobre-encontros-marcados-pelo-destino.html

    beijoos :*

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  2. voc escreve bem *-* sucesso com o blog.
    seguindo, segue o meu: http://cravoecanelagabriela.blogspot.com/

    obg ;*

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  3. Olá, seu conto me lembrou a insustentável leveza do ser do kundera. Tomas e Teresa principalmente na transformação do leve, no seu dizer "brilho aureo", em pesado... bom hoje vou poupá-la da dissertação. Belo Conto. Parabéns

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