terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Prazo expirado.

     
       O amor tem lote de fabricação e prazo de validade. Muito perecível, por sinal, de modo que começa a definhar desde o instante em que se faz concebido. É bem verdade que o amor é necessário à vida. No entanto, só os começos são bons. Sentem-se as fatídicas borboletas no estômago. Há a preocupação em se fazer interessante e para isso procura-se, de fato, o ser. Existe aquela preocupação de falar as coisas certas no tempo certo.
      Depois da fase de conquista, curte-se os tempos de glória. Vem o delírio, o entusiasmo e o elementar desinteresse pelo resto do mundo. Não há mais preocupação com o que falar, porque, nesse estágio, tudo soa com naturalidade. O silêncio não encomoda mais, fez-se confortável.
      Mas depois... O conforto se transforma em rotina. Perde-se o brilho inicial. Desperta-se o reflexo do exterior e as pessoas já conseguem perceber que em volta do ciclo em que se isolou existe um universo maior de coisas, interesses e pessoas. Dessa forma, o mar de sentimentos que fervia a cabeça transforma-se, paulatinamente, em ralo braço de rio. As ilusões são desfeitas. Passa-se a perceber defeitos, até então, nunca reparados.
      Começam a se abandonar. Sofrem a queda da rotina. Recaem. Não sentem aquele velho amor de outrora, agora, nem mais o conforto e aquilo que foi destruído permanece ausente. Pode-se tentar apaixonar-se novamente, desta vez sem as ilusões, aceitando os defeitos recém-descobertos e aprendendo a conviver com eles. Talvez esse seja o conceito de amor definido por Freud. Do contrário, completa-se o desapego. Cura-se as feridas que  eventualmente restarem e parte-se para outros horizontes, em busca de novos começos. Eis que será necessário sempre estar a começar pra poder sentir.

2 comentários:

  1. esse texto é tão melancólico

    ;x

    http://oarlecrim.blogspot.com/

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  2. Foi baseado em uma citação do escritor português Eça de Queiroz.
    ;P

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