Ele estava bem, encontrara alguém que lhe mantinha ativas as borboletas no estômago. Era-lhe bem vinda a risada e o perfume doce que entrava por todos os cantos da casa. Ela lia um poema de algum escritor espanhol enquanto ele lavava a louça do jantar. E regava-lhe as abandonadas plantas no domingo de manhã. Ele a amava. E, no entanto, ela nunca ouvira isso.
Não restavam dúvidas, ele a amava. Ela era a dona dos seus melhores beijos e das suas maiores vontades. Ela era o alvo de todas as canções e era a inspiração de todos os poemas. Mas a falta de palavras pra registrar o que os atos já não conseguiam conter a deixavam insegura diante daquela relação.
Será que ele a amaria? E se amasse, porque não a dizia? Toda essa dúvida, essa falta fez-se uma obsessão. Não lhe bastava mais o cinema do domingo e o sono agarradinho depois do almoço . Não era suficiente que ele lhe desejasse todos os dias no tapete da sala ouvindo a música de abertura da novela das oito. Já era passada à hora de dizer.
Ela precisava ouvir que era amada, com todas as letras que se podia fazê-lo. Só assim teria certeza do sentimento presente. Precisava ser amada verbalmente, na palavra. Do contrário, era caso desconsiderado. Como poderia ser tão intensamente de alguém que não a tinha? Ou, se tinha, não a confirmava?
Certa feita, entre a travessa quente de macarrão e a mesa do jantar ele a beijou os ombros e disse que a amava. Era a primeira vez que ouvia isso, precisava ouvir. Somente neste momento percebera que nunca o dissera algo semelhante. Ficou atônita, as faces rubras e febris denotavam a sua deselegância discreta. O que deveria dizer? Já fazia uns oito segundos. Esperaria os dez? Diria que também o amava? Como era difícil... Pensou rápido, calou o silêncio com um beijo.
Percebeu o quanto a alegação anterior não tinha mudado o que já tinham. Já se amavam. Sabiam disso. Percebeu que amor era estar ali, era pegar no sono assistindo um filme em branco e preto, era brigar, era fazer as pazes. Amor era o cotidiano. Havia alguma necessidade de dizer o que o coração já sabe?
Como uma frase pode ser tão importante em uma relação. Isso me lembra certo momento da série Gossip Girl, onde a personagem Blair Waldorf diz para Chuck Bass: "Diga que me ama e serei sua, largarei tudo." e Chuck não consegue assumir o sentimento em palavras. É apenas uma frase, mas é algo muito importante, é difícil até fazer noção do quanto.
ResponderExcluirvalentim, eric.
http://all-aboutnothing.blogspot.com/
Você escreve muito bem xD
ResponderExcluirParabéns