sábado, 1 de janeiro de 2011

O tempo passa, é fato!


        Ela acordou sozinha, procurou ao seu redor, somente a cama vazia e bagunçada, como se ele tivesse fugido de casa. Somente a discussão do dia anterior não seria suficiente pra que ele a abandonasse. Seria? E caso fosse, teria ele coragem de sair sem ao menos avisar-lhe? Teve.  Nenhum bilhete, nenhum telefonema. O guarda-roupa enfatizava seu abandono ao estar ali, vazio.
         Chorou dias, meses. Quanto tempo se passara desde que ele se fora? Não sabia. Alimentava seu masoquismo curtindo noites de Titanic e sorvete. Queria saber dos passos dele, de como ele estaria feliz sem ela e de como fazia questão de mostrar isso ao mundo. Procurava saber com ele estava, quem deitava na sua cama. A realidade era triste. Ele estava bem e sua cama preenchida.
       As poucas amigas traziam notícias dele em festas e bares. E por longos seis meses ela brindou seu abandono no aconchego do claustro. Olhou-se no espelho, percebera o quão estava morrendo diariamente enquanto ele sapateava por sobre a carne seca.
        Então ela abriu a janela. Os raios de sol, que agora lhe beijavam a face lânguida, a convidavam pra renascer.  Foi ao salão de beleza. Entrou na academia. Voltou a aparecer nas festas.  Conheceu outra pessoa. Ele tinha um bom papo, um bom corpo... Dizia incansavelmente o quanto ela lhe fazia bem e por conseqüência ele devolveu-lhe a vontade de ser viva.
       Certo dia desses, enquanto ela cozinhava chocolate quente, pra dois. Tocou-lhe o telefone. Atendeu.  Uma voz conhecida dizia-lhe que abrisse a porta e que nesse momento estava embaixo da sua sacada. Pegava um pouco de chuva. Ela se dirigiu até a varanda, era ele. O maldito ele por quem sofrera seis longos meses. Hoje ele não parecia mais tão feliz, não tão por cima.
        Ela falava-lhe ao telefone olhando-lhe da sua varanda. Disse que até lembrava-se dele enquanto cozinhava e ouvia a velha bossa que embalava as antigas noites. Mas isso era passado enterrado, ela não via a necessidade de maltratar ninguém.  Que gostaria muito de saber como ele estava, mas agora alguém lhe esperava sob o cobertor quente pra curtir a chuva e o filme. Não tinha tempo. Ele, lá embaixo, misturava as lágrimas com os pingos da chuva, dizia incessantemente que a amava, que não a podia perder.  Ela riu-lhe, pediu licença e entrou.  Seu atual namorado se dirigiu a varanda e fechou a cortina.
         Lá embaixo, ele chorava timidamente. Pensava que não estava preparado para perder o que até então era tão seu. Lá em cima, ela esquentava os pés em outros pés e ria do filme.   

6 comentários:

  1. Muito bom o texto. Realmente traduz a realidade.. parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Adorei seu blog, parabéns!!!
    Vou segui-lo =)

    http://flordelis02.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Muito bom seu blog! Estou seguindo também (:

    Feliz 2011, beijos!

    www.meu-diario-imaginario.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Só não gostei do "um bom corpo..." hahahha. Viva os barrigudinhos =P. Mas serio, gostei do texto, muito bem escrito, as cenas foram muito bem desenhadas com as palavras.

    http://apenasparaloucos.blogspot.com/

    beijos

    ResponderExcluir